Na manhã do dia 05/05, o espaço da Associação dos Empregados e Servidores da CPRH (ASSEC) esteve repleto de funcionários da CPRH, membros de organizações ambientais e estudantes universitários, que participaram do Seminário de Mobilização Vozes do Ambiente: diálogo entre servidores, sociedade e governo em prol da CPRH.
O presidente da Associação, Nelson Malafaia e o Presidente do sindicato (SINTAPE) Manoel Saraiva deram as boas-vindas e ressaltaram o caráter inovador da paralisação, protagonizada pelos próprios servidores. Após contextualizarem o evento como parte das estratégias de mobilização dos servidores, passaram a palavra para o ilustre convidado Clóvis Cavalcanti.
Palestra com o Professor Clóvis Cavalcanti
A palestra do escritor, pesquisador e professor universitário Clóvis Cavalcanti trouxe importantes reflexões sobre o conceito de sustentabilidade, o cenário ambiental em Pernambuco e o papel da CPRH diante desse contexto.
O economista e ecólogo salientou que os dirigentes políticos geralmente possuem uma noção de progresso “pouco profunda, baseada apenas em marcos de crescimento do PIB”. Também questionou a compreensão de sustentabilidade, quando se observam vultosos investimentos em bens que serão obsoletos ainda neste século, como é o caso da refinaria Abreu e Lima, em SUAPE. Citando o paraibano, doutor em Economia pela Sorbonne e indicado ao prêmio Nobel, Celso Furtado, o prof. Cavalcanti defendeu a tese de que o modelo de desenvolvimento posto em prática atualmente, no Brasil e em Pernambuco, é um mito. Não possui uma retaguarda de cálculos seguros, que avaliem, além dos benefícios econômicos, os custos advindos do uso dos recursos naturais, que são degradados e banidos do usufruto de gerações futuras.
Ao observar o uso de copos plásticos em nosso órgão ambiental, fez alusão ao ‘analfabetismo ecológico’, incompatível com uma sociedade sustentável e com a missão da CPRH. Questionado pelos servidores sobre como superar essa contradição, mencionou que devemos nos apoiar na observação dos processos naturais, que possuem alta produtividade e eficiência, praticamente sem gerar sobras; que devemos nos convencer não por leis, mas pela própria reflexão; e que ao invés de estarmos somente trancados em atividades burocráticas, devemos estimular mais debates como este, chamando a atenção da sociedade em momentos propícios, como a semana do meio ambiente. Em suma, mencionou que o grande vetor da mudança é a educação.
Quando questionado sobre o papel da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), apontou o amplo desafio para superar as diversas forças que lhe serão antagônicas, a exemplo dos partidários da ‘velha economia’ e de movimentos sindicais conservadores. Para ele, a partir da criação da SEMAS, a política ambiental precisa ser o eixo que perpassa todas as outras ações do governo, seja qual for a secretaria executora. Nessa linha de pensamento, defendeu a criação de um Conselho de Sustentabilidade, que seria presidido pelo Governador e contaria com a participação de todos os secretários de governo.
O professor também mencionou que existem à disposição, na biblioteca da Fundaj, trabalhos sobre a qualidade ambiental em Pernambuco, mas que são raros os estudos sobre o desempenho institucional e avaliação de políticas públicas ambientais em nosso Estado.
Diálogo com Sociedade Civil Organizada
Ainda pela manhã, participantes da sociedade civil (como AMANE, APIME, Bagulhadores do Mió, Associação dos moradores e posseiros da Barragem de Duas Unas, Universidades, concursados da CPRH não nomeados e cidadãos interessados no tema) assistiram a apresentação sobre a CPRH – ‘histórico, questões e desafios’. A apresentação foi finalizada com a abertura de debate orientado pela questão: Como a CPRH pode melhorar sua relação com a sociedade, visando o cumprimento efetivo de sua missão institucional? A partir dessa pergunta, os presentes levantaram sugestões que passam pela ‘alfabetização ecológica’ em escala significativa, a realização de eventos similares ao Seminário de Mobilização e a extrapolação das discussões levantadas para outros âmbitos, como o CONSEMA.
Diálogo com governo e administração interna
A parte da tarde estava reservada para apresentações dos convidados do governo (Sérgio Xavier, da SEMAS, Ricardo Dantas, da SAD e Hélio Gurgel, da CPRH), que não compareceram ao evento.
Devido à ausência dos convidados, os servidores realizaram uma avaliação de todo o processo de mobilização, centrado em tentativas de diálogo com seus superiores e na obtenção de respostas concretas aos seus questionamentos e reivindicações. Várias pessoas se manifestaram e compartilharam experiências, ora de descontentamento e frustração, ora (e principalmente) de entusiasmo, em função da visibilidade do movimento na sociedade e do crescente aumento da coesão do grupo de servidores, que decidiu encaminhar novo calendário de paralisações.
Parabenizo todos os responsáveis por esse evento valioso para toda a sociedade pernambucana! A conscientização ambiental é de suma importância para o desenvolvimento sustentável do Estado, sem falar também na importância da luta pela valorização dos profissionais da área, que realmente recebem salários vergonhosos, além de condições restritas de trabalho.
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