Pesquisar este blog

terça-feira, 12 de março de 2013



MEUS BOTÕES, EU E MINHA INGENUIDADE.

Por: Dráuzio Correia Gama*

 E a verdade é uma só: uma busca incessante das sociedades por uma vida cada vez mais cômoda. E com isso se pode dizer também maior produção e maior consumo numa consequente e incessante onda voraz na exploração dos recursos naturais.
A ideia aqui não é macular o consumo, pois este é a imprescindível mola propulsora do crescimento de qualquer mercado seja de trabalho, seja de produção. E comodidade, (leia-se bem-estar social) é necessária à qualidade de vida. E sim, é preciso produzir! Entretanto, falemos da forma como é adotada essa exploração dos recursos naturais. Não só, como também a “distribuição” dessa produção que é desigual. Também pensemos na degradante forma de explorar sem critérios, sem planos de manejo, sem avaliação de impacto... Baseada em números quantitativos e imediatos. Levando, portanto, a um tipo de consumo que ameaça à segurança ambiental e claro, à própria qualidade de vida. 
Nisso, eu aqui com meus botões fico pensando como ainda é muito contraditório falarem em crise de alimentos ou tentarem justificar a destruição de paisagens naturais como meio de aumento da fronteira agrícola para produzir mais alimentos a atender o aumento da população mundial, por exemplo, onde nesse mesmo mundo, segundo estudos da FAO feito em 2012, aproximadamente 50% do que se produz de alimentos é desperdiçado. Jogado no lixo, literalmente! Será que para alimentar a população mundial vindoura, e antes disso, matar a fome dos milhões de seres humanos que aqui já existem é preciso derrubar mais florestas? Fazer mais pastos, ampliar as fronteiras agrícolas, e aqui pra nós, esquartejar o nosso Código Florestal? Em minha ingênua opinião, acredito que se o interesse fosse mesmo alimentar a humanidade, já era possível com o que se produz atualmente, inicialmente controlando os aberrantes desperdícios. 
Enfim, digo opinião ingênua porque, infelizmente, a preocupação de querer produzir cada vez mais é estimulada por outros interesses. Que o diga o forte mercado mundial de agrotóxicos e transgênicos! 
Ou seja, não interessa se o que produzir, em termos de comida, está indo para a boca ou para o lixo. Não interessa se o dano ambiental é preocupante ou não. Apenas que nessa produção os mercados tenham bons câmbios, tratando-se de commodities. Onde o que está em jogo é tão somente a maior produção, maior demanda, melhor custo-benefício, maximização... Enfim, a segurança alimentar e ambiental que tanto se noticiam, deixam de ser relevantes para os grandes setores produtivos, com raríssimas e tímidas exceções. 
Em outro foco, testemunhamos ser esse século o detentor das avançadas das tecnologias e ainda assim a desnutrição de muita gente é avassaladora a reboque das desigualdades sociais. Quiçá, o retrato da sociedade moderna. 
Uma coisa tem haver com a outra? Sim, e eu teimo acreditar ainda que pela lógica, essas avançadas tecnologias deveriam proporcionar melhores condições de vida contribuindo de alguma forma com o estreitamento da desigualdade. Mas não. Em plena era digital, em plena época das ditas nano-robóticas, nanotecnologias e afins, impressionando a cada dia com suas evoluções, ainda nos deparamos com gente sem energia elétrica, sem água para beber e ambientes poluídos... Onde as necessidades primária e básica de muita gente constituem a única prioridade. 
Atrelada a isso, como se fosse pouco, a destruição crescente de ambientes naturais biodiversos, como florestas, estuários e mangues sem um mínimo de ressentimento. Ou seja, ações que deveriam ser repensadas ao se falar em crise de alimentos. 
Poderíamos estar vivendo no melhor dos mundos se essa incongruência entre recursos naturais, avanços tecnológicos, comportamento humano e distribuição de alimentos fossem equacionada em ambientes naturais cada vez mais conservados. 
Logo penso que a fome da humanidade não é por falta de produção de alimentos, não é por falta de tecnologias. Não é por falta de chuvas. Por culpa de terremotos, por pragas, macumbas, erosões, tsunamis, falta de áreas agricultáveis... ou seja lá o que for. A fome no mundo é simplesmente o resultado de caprichos de interesses mesquinhos de homens desprovidos de humanidade e bom senso. Os modelos de consumo entre países nórdicos e do hemisfério sul, onde só os EUA consomem mais da metade de energia que é produzida no planeta, enquanto que em alguns países da áfrica uma porção de arroz, por exemplo, é quase que um artigo de luxo, já dá uma boa explicação. 

Estudante de Eng. Florestal*
Universidade Federal de Sergipe-UFS