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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Publicação reúne avaliações sobre o risco de extinção de espécies de plantas em todo o país




Orquídea: uma das espécies sob o risco de extinção
Orquídea: uma das espécies sob o risco de extinção


Pesquisadores ligados ao Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), entidade vinculada à Diretoria de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, elaboraram o “Livro Vermelho da Flora do Brasil”. A publicação foi lançada nesta terça-feira (03/12), na Escola Nacional de Botânica Tropical, Solar da Imperatriz, no Rio de Janeiro.
O livro, organizado por Gustavo Matinelli e Miguel Ávila Moraes, revela que, do ponto de vista espacial, a maioria das espécies ameaçadas encontra-se nos nas regiões Sudeste e Sul. De um total de 4.617 espécies avaliadas, 2.118 (45,9%) foram classificadas como ameaçadas e enquadradas nas categorias Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR). As demais entraram nas categorias Menos Preocupante (LC), Deficiente de Dados (DD) e Quase Ameaçada (NT).
AÇÕES DE CONSERVAÇÃO
Para os cientistas, um dos grandes desafios que os países enfrentam, atualmente, é conhecer sua biodiversidade e avaliar o risco de extinção das espécies nativas de seus territórios, para planejar as ações de conservação. O Brasil concentra de 11% a 14% da diversidade de plantas do mundo, com quase 44 mil espécies catalogadas e milhares ainda desconhecidas pela ciência. No País estão localizadas duas das 34 áreas de grande diversidade de espécies com alto risco de extinção (hotspots), que são a Mata Atlântica e Cerrado.
Entre os Estados, Minas Gerais tem a maior quantidade de espécies nas três categorias de risco de extinção (VU, EN e CR). Na sequência, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia encabeçam a lista da flora em risco de extinção. Mata Atlântica e Cerrado são os dois biomas em que se verificou o maior número de espécies ameaçadas, seguidos da Caatinga e dos Pampas.
A Amazônia ocupa o quinto lugar do ranking, o que pode ser explicado pela vasta rede de áreas protegidas (38% de seu território), pelas várias regiões de difícil acesso e pelas lacunas de informação sobre suas espécies. De acordo com os pesquisadores, o livro permitirá a atualização da “Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção”.
“O conjunto da obra oferece ao leitor todo o conteúdo necessário para consultar o risco de extinção de espécies da flora avaliadas”, esclarece Gustavo Martinelli, coordenador do CNCFlora. “Nesse contexto, acreditamos que o livro terá grande utilidade para municiar tomadores de decisão com informações científicas que possam nortear o estabelecimento de prioridades de ação para conservação de plantas, ou mesmo para direcionar pesquisas científicas que possam preencher lacunas de conhecimento sobre determinados grupos taxonômicos”.
DEGRADAÇÃO
O trabalho do CNCFlora foi elaborado a partir de ferramentas tecnológicas, obtidas em um portal online integrado, que viabilizaram a criação de um acervo único sobre as espécies em risco de extinção, constatando-se que a perda de hábitat e a degradação são as principais ameaças à flora nacional. Para o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Cavalcanti, a publicação apresenta avaliações de risco que servirão de subsídio essencial à elaboração da lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção. “É, por isso mesmo, um trabalho importantíssimo de pesquisadores brasileiros e internacionais sobre a flora do País”, acrescenta.
Em relação às espécies avaliadas no livro, o grupo das samambaias, avencas e xaxins (Pteridófitas), por exemplo, é o mais ameaçado, enquanto o de musgos, entre outros (Briófitas) é, proporcionalmente, o menos ameaçado. O estudo apontou, ainda, que a família das bromélias (Bromeliaceae) apresenta o maior número de espécies consideradas criticamente em perigo, seguida das famílias das orquídeas (Orchidaceae) e das que fazem parte, por exemplo, girassóis e margaridas (Asteraceae).
PREOCUPAÇÃO
O Centro Nacional de Conservação da Flora tem a missão de coordenar os esforços nacionais de conservação de plantas. A primeira fase desse trabalho avaliou, cientificamente, 4.617 espécies da flora brasileira já incluídas em listas oficiais de espécies ameaçadas. A meta é, até 2020, concluir a avaliação de risco de extinção de todas as espécies conhecidas de plantas brasileiras.
O sistema do CNCFlora contabilizou 5.642 ameaças incidentes sobre a flora brasileira. Dentre elas, 3.400 (60,2%) afetam espécies consideradas em risco de extinção. A perda de hábitat e a degradação são responsáveis por 87,35% (2.970) dessas ameaças. A agricultura é a causa primária de perda de hábitat e degradação (36,1%). Infraestrutura e planos de desenvolvimento (23,5%), bem como o uso de recursos naturais (22,3%), também contribuem, de forma significativa, com esse processo. O fogo causado por pessoas (11%) é, igualmente, uma fonte de grande preocupação dos pesquisadores.
Na web:
CNCFlora
http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/
https://www.facebook.com/cncflora
Texto de Luciene de Assis, do MMA, publicado pelo EcoDebate, 04/12/2013

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

ENERGIA...


Hoje a palavra energia está mais do que em voga. O país consome, precisa pra crescer,mas, também desperdiça. E o ponto nevrálgico das discussões é a tão sonhada energia renovável, limpa. Mas energias como a eólica, Pequenas Centrais Hidreléticas - PCH's, energia nuclear são realmente alternativas mais limpas? Esta última elenca debates quentíssimos em qualquer roda de bar. As PCH's não são unânimes e a eólica traz em seu bojo inúmeras degradações, desde facilidades nas licenças ambientais por parte de alguns governos como a pressão e coação de algumas comunidades que ainda não tem suas escrituras de terra e estão em processo de regularização, para ceder suas terras a preço de banana para implantação das mesmas. O que ainda parece não ser claro, é que quem explora as torres eólicas são empresas privadas que tem como objetivo o lucro e nada mais. Exemplo disso são os parques eólicos na Bahia e em outros locais do país, que estão construídos, mas sem transmitir um watt de energia sequer.E na pauta ainda temos também a extração do gás de xisto, acalorando mais o debate.

O Governo de Pernambuco já dá como certa a instalação da Usina Nuclear em Itacuruba, interior do estado e às margens do rio São Francisco, cujas águas servirão para aliviar o calor das caldeiras. E quanto às PCH's também é o sonho de muita gente sair picotando um rio, cujos impactos de cada usina instalada pode gerar impactos maiores até que uma grande usina hidroelétrica.

A seguir, algumas reportagens sobre as tão propaladas formas alternativas de energia.



Pequenas Centrais Hidroelétricas: uma alternativa energética e seus impasses
ENERG IA
Texto: Fred Burgos | Fotos : João Zinclair

Uma solução de menor impacto social e ambiental do que as grandes usinas, as pequenas Centrais Hidroelétricas −PCHs têm sido apresentadas como uma alternativa econômica e ambientalmente viável para a geração de eletricidade, indispensável ao desenvolvimento do país. A consistência argumentativa de sua adoção como fonte energética tem despertado o interesse de investidores.

Estima-se que no rio São Francisco e nos seus afluentes estejam previstas mais de 200 pequenas
centrais hidroelétricas. A análise dessa fonte de energia e a compreensão dos impactos que o somatório dos empreendimentos previstos pode trazer para o meio ambiente e as comunidades ribeirinhas está na pauta de debates do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco − CBHSF.

No entender do presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, não há alternativa para a geração de energia que não cause conflitos com a natureza. Se mal planejada e concebida, qualquer uma pode trazer mais danos do que benefícios. Ao examinar o projeto de PCHs, sugere ele, é preciso avaliar os possíveis impactos do seu conjunto no entorno e não apenas a avaliação individual de projetos. Só então deve-se definir quantas e quais devem ser construídas sem colisões com as necessidades das comunidades e do meio ambiente. “Sabemos, por exemplo, que há determinados cursos de água, cuja importância para a biodiversidade é tão grande que não comporta a construção de PCHs. É preciso que haja uma avaliação sistêmica e sinérgica dos seus efeitos cumulativos, para que os benefícios minimizem em muito os impactos”, afirma.

A posição do Comitê é que, com tanta degradação ao meio ambiente observada ao longo de séculos,
o desenvolvimento dessa atividade demanda uma base sólida de informações, capaz de sustentar com convicção os questionamentos naturais a processos que envolvem interesses tão amplos.A expectativa em torno das PCHs é que, em sendo um projeto bem-estruturado do ponto de vista ambiental, social e negocial, traga não apenas retorno financeiro, mas também possa levar o progresso para a região do empreendimento, sem danificar ou interferir substancialmente na natureza
e na vida das populações. A temática assume importância crescente se for considerado que o São Francisco e seus afluentes possuem um alto potencial hidráulico-energético não explorado, o que faria das PCHs uma solução para o déficit energético regional. Segundo a assessora do Instituto Brasileiro de Mineração − Ibram e membro do CBHSF, Patrícia Boson, estimulado pelas organizações ambientais, o Comitê irá debater amplamente o tema, para que possa tomar uma posição conjunta. “No meu entendimento, a matriz hidroenergética é a melhor alternativa para o país. Mas é claro que ninguém afirmará isso quando ficar comprovado que um dado projeto em um local específico trouxer danos às populações e ao meio ambiente”, salienta.

Conforme a resolução n° 394, da Agência Nacional de Energia Elétrica − Aneel, uma PCH é uma usina de pequeno porte cuja capacidade instalada seja superior a um e inferior a 30 megawatts (MW). Além disso, a área do reservatório deve ser inferior a 3 km². O impacto socioambiental das PCHs, portanto, é consideravelmente menor do que o das grandes Usinas Hidrelétricas de Energia − UHEs.

Na visão negocial, a pequena central hidroelétrica produz energia que é colocada à disposição do sistema elétrico brasileiro. O que for produzido tem a garantia estatal de que será comprado. Mas nem tudo são flores. Operar a fio d’água (vazão natural) é uma característica de uma PCH típica. Em outros termos, não haveria um reservatório capaz de garantir a regularização do fluxo d’água.

Com isso, em ocasiões de estiagem, a vazão disponível pode ser menor que a capacidade das turbinas, causando ociosidade. Porém, há situações nas quais as vazões são maiores que a capacidade de engolimento das máquinas, permitindo a passagem da água pelo vertedor. Por isso, o custo da energia elétrica produzida pelas PCHs é maior que o de uma usina hidrelétrica de grande porte, onde o reservatório pode ser operado de forma a diminuir a ociosidade ou os desperdícios de água.

Há circunstâncias nas quais pequenos reservatórios se fazem necessários, já que nem todas as PCHs atuam apenas no fio d’água. No entender do professor Luiz Carlos Fontes, geólogo e coordenador do Laboratório Geo-Rio-Mar da Universidade Federal de Sergipe − UFSE, as PCHs não têm teoricamente um poder de reserva muito grande, mas retêm sedimentos (carga de fundo e de superfície). “Se eles deixarem de chegar ao rio principal, podem impactar, já que esses sedimentos são responsáveis por garantir a qualidade de água e afetam a produção de alimentos que chegam às casas”, observa. Ele explica que o rio não é só água, é também composto por sedimentos grossos (areias e cascalhos) e suspensos (lama e nutrientes). Portanto, é preciso considerar qual a influência das PCHs na retenção dessas cargas. É necessário, no seu entender, abordagens integradas dos impactos cumulativos de várias PCHs. “O rio principal é a soma dos seus afluentes. Existe um equilíbrio que, se quebrado, pode ocasionar mudanças inclusive na morfologia dos canais”, afirma o professor da UFSE.

Para exemplificar o efeito em cascata que pode ser provocado por tais projetos, Luiz Carlos Fontes afirma que a carga que o rio aporta no oceano é de fundamental importância para uma ampla biodiversidade. Assim, cada afluente possui um papel importante, cuja modificação pontual afeta uma ampla dinâmica. Dentro do próprio rio, “a ausência de carga de fundo pode, por exemplo, fazer com que o processo de erosão seja mais acelerado. É fundamental que haja sempre transparência na gestão dos recursos hídricos. A vazão de um rio não depende só do clima, mas também das formas de uso que se dá a suas águas e a dos seus afluentes”, afirma.

Outra questão levantada é que muitas PCHs têm uma vida útil curta. Isso porque, em alguns casos, como seus reservatórios são pequenos, sofrem assoreamento de forma rápida. “Faz-se investimentos grandes com recursos públicos, mas o investidor pode estar interessado apenas no período inicial da
vida da usina, o que pode gerar maior interesse na construção e implantação do que na sua operação”, adverte Rogério Sepúlveda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das Velhas, afluente do São Francisco.

Sobre os impactos das PCHs, o biólogo e um dos coordenadores da Associação para Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro − Angá, Gustavo Malacco, questiona: “Se o empreendimento é pequeno e não afetará outras atividades, já que está baseado no fio d’água, por que precisa de reserva?” Na visão de Rogério Sepúlveda, há o argumento de que as PCHs não produzem grandes
inundações e alteram menos a qualidade de água. “Mas este é um argumento simplista”, diz ele. “O problema surge quando se troca uma usina média por várias pequenas e se começa a picotar o rio.

Em Minas Gerais, no rio Santo Antônio, na bacia do rio Doce, existem cerca de 10 PCHs previstas,
que somadas representam um grande impacto”, adverte. Por isso, a promotora de Justiça Luciana Khoury, coordenadora do Núcleo de Defesa do São Francisco do Ministério Público da Bahia sugere
que, na definição de qual deve ser a fonte geradora de energia, “a prioridade deve ser sempre em razão das necessidades e expectativas das comunidades e do meio ambiente, e não com foco apenas no custo e ganhos econômicos dos empreendedores”. Para o dirigente da Associação dos Irrigantes e Agricultores do Oeste da Bahia − Aiba, Júlio Ribeiro, os estudos dos impactos ambientais de tais projetos são de importância fundamental para que os diversos usos das águas não sejam comprometidos.

Proprietário de duas fazendas nos municípios baianos de São Desidério e Bom Jesus da Lapa, no Médio São Francisco, Ribeiro conta com mais de quatro mil hectares irrigados, onde planta soja, milho e algodão para os mercados interno e externo. “É preciso que se leve em consideração que a produção agrícola gera mais emprego e renda do que tais projetos. Mas, por outro lado, o armazenamento de água no período de maior vazão pode permitir que ela seja liberada no momento de escassez, regularizando o fluxo do rio”, observa.

Por se prestarem à geração descentralizada, as PCHs são adotadas principalmente em rios de pequeno e médio porte, que possuam desníveis significativos ao longo do seu percurso, gerando potência hidráulica suficiente para movimentar as turbinas. Em razão da baixa vazão de muitos afluentes, as PCHs são construídas nas áreas de maior desnível. Mesmo sem um conflito imediato com os projetos de irrigação, podem entrar em competição com o potencial turístico do lugar, já que onde tem PCH habitualmente tinha uma cachoeira.

Disponível em: http://cbhsaofrancisco.org.br/sala-de-imprensa/publicacoes/revista-chico-revista-do-comite-da-bacia-hidrografica-do-rio-sao-francisco-cbhsf-no-01-nov-2012



Parques eólicos desestruturam a dinâmica ambiental e ecológica do litoral. Entrevista com Antônio Jeovah de Andrade Meireles

Publicado em julho 23, 2013 por 

“Os parques eólicos estão causando a erosão das praias, e o mar já está batendo nos aerogeradores”, alerta o geógrafo.
Confira a entrevista.
Foto: http://www.portaldomar.org.br
Considerada pelos especialistas uma fonte renovável, a energia eólica, que não emite gases de efeito estufa durante sua operação, tem sido objeto de estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, entre eles, Antônio Jeovah de Andrade Meireles, após serem identificados impactos ambientais por conta do funcionamento e instalação dos parques eólicos na região litorânea. Em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone, o geógrafo apresenta os primeiros resultados das pesquisas que verificaram impactos socioambientais na região nordeste, onde estão instalados parques eólicos. De acordo com ele, “no processo de instalação dos aerogeradores, são construídas várias vias de acesso sob o campo de dunas móveis, as quais soterram sistemas lacustres. Como as dunas são móveis, elas estão passando por um processo de fixação artificial. Então, num primeiro momento, definimos que os parques eólicos não geram impactos pontuais, mas impactos que desestruturam a dinâmica ambiental e ecológica de um campo de dunas que, no Ceará, tem mais de 500 quilômetros de extensão”. Os impactos ambientais, esclarece, “estão relacionados à completa desestruturação morfológica, à mudança na paisagem dos campos de dunas, e ao soterramento das lagoas costeiras. Há uma completa desestruturação morfológica, porque as dunas estão perdendo sua formação natural, sua mobilidade, e consequentemente perde-se a função de amenizar processos erosivos”.
Meireles acentua o potencial energético dos parques eólicos, mas adverte que eles devem ser instalados em áreas adequadas. Além disso, propõe um investimento “genuinamente” público. E questiona: “Por que não se constroem parques eólicos para, num primeiro momento, levar energia limpa a milhares de comunidades que têm esse potencial instalado no lado das suas residências? (…) A energia pública, limpa e voltada para a produção comunitária seria uma alternativa extremamente importante e produziria um efeito ambiental e social que conduziria realmente a uma produção sustentável de energia”.
Antônio Jeovah de Andrade Meireles é doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona, professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-graduação em Geografia e em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará – UFC.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor mencionou recentemente que a instalação dos parques eólicos leva em conta apenas a dimensão econômica, ignorando os custos ambientais desses projetos. Qual é o custo ambiental?
Foto: http://impactodastecnologias.webnode.pt
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Nós estamos elaborando uma série de estudos relacionados aos impactos socioambientais dos parques eólicos no Ceará. Em relação aos parques que estão sendo implementados na zona costeira, estamos analisando a forma de instalação dos aerogeradores e os impactos ambientais desse sistema. No processo de instalação dos aerogeradores são construídas várias vias de acesso sob o campo de dunas móveis, as quais soterram sistemas lacustres. Como as dunas são móveis, elas estão passando por um processo de fixação artificial. Então, num primeiro momento, definimos que os parques eólicos não geram impactos pontuais, mas de impactos que desestruturam a dinâmica ambiental e ecológica de um campo de dunas, o qual, no Ceará, tem mais de 500 quilômetros de extensão.
Os impactos ambientais estão relacionados à completa desestruturação morfológica, à mudança na paisagem dos campos de dunas e ao soterramento das lagoas costeiras. Há uma completa desestruturação morfológica, porque as dunas estão perdendo sua formação natural, sua mobilidade, e consequentemente perde-se a função de amenizar processos erosivos.
Outra análise diz respeito aos impactos cumulativos. O potencial eólico do Ceará é imenso, de 60 mil megawatt só na planície costeira, mas os parques estão sendo implantados sem análise cumulativa. Quer dizer, o que significa a liberação de licenciamento de um parque eólico, diante do potencial de se instalar 10 ou 20% do potencial eólico do estado, o que equivaleria a duas, três ou quatro mil cata-ventos aerogeradores? Com isso, já construímos outra discussão de como o Estado irá se preparar do ponto de vista estratégico, ambiental e social para a implantação dessa indústria que produz energia eólica, que é muito importante.
O estado do Ceará deve se preparar no sentido de formular políticas públicas que possam definir alternativas tecnológicas para a produção dessa energia. Há uma série de outros impactos que não estão sendo analisados, como os sociais. Os aerogeradores, e toda a área ocupada por eles, geram riscos de morte. Eles ficam em áreas privatizadas, aquelas relacionadas ao usufruto de comunidades tradicionais e comunidades de pescadores. Estamos observando também que os aerogeradores estão sendo construídos em áreas de intensa dinâmica das praias. Para se ter ideia, os parques estão causando a erosão das praias, e o mar já está batendo nos aerogeradores. Já foram construídos muros com blocos de rochas para protegê-los. Além disso, os parques estão sendo construídos em manguezais, dentro de áreas que deveriam ser investidas para potencializar a biodiversidade, uma vez que o sistema manguezal tem uma relação muito estreita com a soberania alimentar dos povos e comunidades tradicionais. Além disso, há os impactos sociais, como a gravidez precoce, o subemprego, porque os parques não geram emprego para as pessoas da comunidade. Centenas de trabalhadores chegam de uma hora para a outra nas comunidades, as quais não estão preparadas para recebê-los, não sabem o que vai acontecer, não têm acesso à informação. Então, cada processo de licenciamento ambiental se fundamenta na inequidade, e não no contrário, na necessidade de equidade socioambiental.
IHU On-Line – As consequências verificadas nesses parques eólicos podem ser aplicadas a outros parques instalados em regiões litorâneas?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Sim, podem ser verificadas também nos parques que estão sendo instalados na Bahia, os quais têm problemas seríssimos com prostituição infantil. Os filhos de mulheres das comunidades que se relacionam com trabalhadores que chegam à região são chamados de filhos do vento. No Rio Grande do Norte, dunas e áreas de turismo estão sendo fortemente impactadas.
Consideramos essa fonte energética importante, mas ela deve ser genuinamente pública. Por que não se constroem parques eólicos para, num primeiro momento, levar energia limpa a milhares de comunidades que têm esse potencial instalado no lado das suas residências? Em algumas comunidades, os aerogeradores ficam muito próximos das casas, a 50 ou 60 metros. Os moradores definiram que o barulho dos aerogeradores como um avião que nunca pousa, por conta do barulho constante. Então, a energia pública, limpa e voltada para a produção comunitária seria uma alternativa extremamente importante e produziria um efeito ambiental e social que conduziria realmente a uma produção sustentável de energia.
IHU On-Line – Diante dos impactos ambientais apontados, ainda é viável investir em parques eólicos no país?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – É viável, claro! Desde que se leve em conta condições para se definir áreas mais adequadas, para se produzir uma energia pública com qualidade.
IHU On-Line – Como os parques eólicos têm modificado as regiões onde estão instalados? Quais são as reclamações dos moradores que vivem no litoral cearense?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Reclamam da utilização e do domínio inadequado de seus territórios, os quais produzem soberania alimentar. Esses territórios estão sendo utilizados e privatizados, minimizando o acesso das comunidades aos locais de pesca, de mariscagem, de lazer. Então, para você ter ideia, algumas indústrias entram com pedido judicial para não pagarem impostos municipais, ICMS… E há também um processo de desinformação: as comunidades não têm informação sobre a área que será utilizada para a implantação dos parques eólicos, nem sobre a forma como eles serão instalados ou quanto tempo ficarão sem acessar as áreas etc.
IHU On-Line – Como o senhor vê a decisão de o governo abrir mão da expansão da matriz energética com base apenas em fontes limpas? Qual o significado dessa mudança no planejamento do plano decenal de energia?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – É uma situação complicada, porque o governo acaba investindo, por exemplo, em energia movida a óleo diesel, a energia derivada de petróleo, em energia movida a carvão mineral. Potencializar a matriz energética à base de petróleo e carvão mineral nos levará a colapsos ambientais, climáticos, gerando cenários de injustiça ambiental.
(Ecodebate, 23/07/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.




Energia Eólica: a caçada pelos ventos!