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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014


De olho no gato

Pesquisadores se mobilizam para aumentar em 20% a população de onças-pintadas na mata atlântica em cinco anos
CARLOS FIORAVANTI e RICARDO ZORZETTO | Edição 215 - Janeiro de 2014

© ADRIANO GAMBARINI
O maior felino 
das Américas: 
com baixa diversidade genética e ameaçado pela caça intensiva
O maior felino 
das Américas: 
com baixa diversidade genética e ameaçado pela caça intensiva
O veterinário Ronaldo Morato pretende sair logo atrás de onças-pintadas, se possível já em maio, quando passarem as chuvas do início de ano. Seu plano é colocar um colar especial em cinco onças dessa espécie que vivem nas florestas do sul do estado de São Paulo para acompanhar seus movimentos a distância e conhecer seus espaços favoritos. A definição de áreas prioritárias para a conservação desses animais faz parte de um plano estabelecido em setembro em Campinas para ampliar em 20% a população de onças-pintadas – os maiores felinos das Américas – na mata atlântica, o ambiente florestal em que são mais raras.
O plano propõe a redução da caça, o monitoramento das populações remanescentes, o uso de técnicas como inseminação artificial e a formação de um banco de sêmen de onças-pintadas da mata atlântica. Participantes da reunião – pesquisadores acadêmicos e representantes de empresas e de órgãos do governo – reconheceram que o esforço concentrado em um único ecossistema com metas de curto prazo deve facilitar o trabalho e aumentar a chance de sucesso do plano de ação. Já existe um plano nacional de preservação das onças-pintadas, publicado em dezembro de 2010 no Diário Oficial, com ações previstas até 2020. Em uma avaliação recente, os especialistas verificaram que parte dos objetivos tinha sido atingida e concluíram que trabalhar separadamente nos diferentes ambientes brasileiros poderia ser mais produtivo.
“Se conseguirmos reduzir as pressões atuais, como a caça e a fragmentação da floresta, pode já ser o bastante para aumentarmos a população de onça-pintada na mata atlântica”, diz Morato, coordenador do Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Em sua sala de trabalho, em um prédio de dois pisos com amplas janelas de vidro e vigas de madeira próximo à rodovia Dom Pedro I, em Atibaia, ele acompanha pelo computador o movimento de oito onças-pintadas nas matas do norte do pantanal. Várias vezes ele sentiu medo e fascínio ao se ver em campo diante desses felinos, que podem chegar a 2,70 metros de comprimento e podem atacar quando se sentem acuados. A primeira vez foi em 1992, recém-formado em veterinária, para anestesiar uma onça-preta e acompanhar outros pesquisadores colocando um colar de monitoramento no animal, ainda como estagiário do biólogo Peter Crawshaw, um dos pioneiros na preservação de felinos silvestres no Brasil. “E nunca mais me desprendi das onças”, diz Morato, aos 47 anos.
“Temos de trabalhar juntos e acreditar que o plano vai dar certo”, ele ressalta. Reduzir a caça e a fragmentação, como ele propõe, exigirá uma atenção permanente dos órgãos de fiscalização ambiental nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, por onde a mata atlântica se espalha. Em todo o país, a caça – para a retirada e venda de pele ou como retaliação, quando as onças atacam os rebanhos – ainda é intensa, embora proibida e classificada como crime inafiançável. Em 2013, ele e Elildo Carvalho Jr., outro pesquisador do Cenap, em colaboração com o Instituto Pró-Carnívoros, verificaram que pelo menos 60 onças-pintadas (Panthera onca) e pardas (Puma concolor) foram mortas por caçadores nos últimos dois anos, com base em informações de 100 gestores das unidades de conservação ambiental administradas pelo governo federal. Estima-se que 5.500 representantes dessa espécie se escondam nas florestas brasileiras, principalmente na Amazônia e no pantanal. Mesmo assim, a onça-pintada é considerada vulnerável ao risco de desaparecimento, por causa do declínio populacional.
Na reunião de setembro em Campinas e em uma carta publicada na revista Science em novembro, pesquisadores de várias instituições do país alertaram que a mata atlântica, se nada for feito, pode ser o primeiro ambiente florestal brasileiro a perder essa espécie de felino – ali, a onça-pintada já é classificada como criticamente ameaçada de extinção. Estima-se que a floresta atlântica abrigue apenas 250 onças-pintadas, total considerado baixo para a manutenção das populações. Além do pequeno número de animais, outro problema é a baixa diversidade genética. Os estudos do grupo de Eduardo Eizirik da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul indicaram que os 250 animais, em consequência de cruzamentos entre eles, correspondem a apenas 50 indivíduos efetivos, geneticamente distintos.
As onças-pintadas ocupam apenas 7% da área total da mata atlântica. Se houvesse mais animais dessa espécie – e também mais oferta de sua dieta favorita, as queixadas, uma espécie de porco selvagem bastante caçada por causa da carne, mas indesejada porque anda em bandos e destrói plantações –, a área ocupada poderia ser três vezes maior, de acordo com as pesquisas do grupo de Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Seus estudos indicaram que a falta de onças-pintadas, os predadores de topo de cadeia alimentar, pode causar vários tipos de desequilíbrios ecológicos, deixando animais herbívoros como a anta – ou mesmo roedores – se multiplicarem livremente ou favorecendo o crescimento de gramíneas e outras plantas baixas no lugar das árvores.
© CLAUDIA B. CAMPOS
Região de Boqueirão da Onça
Região de Boqueirão da Onça
Valéria Conforti, professora da Universidade de Franca (Unifran), disse que saiu otimista da reunião de setembro em Campinas. “Todos estavam chocados com a situação das onças-pintadas na mata atlântica e se mostraram dispostos a correr riscos e testar o que achamos que pode dar certo”, ela observou. Um de seus planos para este ano é testar, em onças-pintadas mantidas em zoológicos paulistas, uma técnica de inseminação artificial que ela aplicou experimentalmente em gatas domésticas e outros felinos no zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos. Essa abordagem consiste em medir a variação hormonal das onças fêmeas por meio da análise de fezes, identificar o momento mais adequado, induzir a ovulação e fazer a inseminação artificial, depositando sêmen por meio de uma laparoscopia na tuba uterina, em vez do útero, como já se faz, para facilitar o acesso do espermatozoide ao óvulo e aumentar a chance de fertilização. A inseminação artificial já foi aplicada a outros felinos, mas ainda não a onças-pintadas. Se os testes derem certo, Valéria pretende aplicar essa técnica em animais de vida livre em 2015, como forma de aumentar a probabilidade de geração de filhotes sadios e evitar o risco de cruzamento entre animais aparentados.
A transferência de animais de uma mata para outra é uma possibilidade cogitada para repovoar as matas com onças-pintadas. Trata-se, porém, de uma alternativa de custo alto e muitas dificuldades, que exige o apoio de comunidades rurais e fazendeiros que aceitem ter uma onça perto de suas casas ou pastagens. Vários estudos, como os do biólogo Sílvio Marchini, pesquisador da Escola da Amazônia e da Universidade de São Paulo (USP), mostraram que o apoio dos moradores de áreas rurais próximas a matas ocupadas por onças é fundamental para os planos de ação funcionarem. No pantanal, com resultado de um experimento-piloto do Cenap com uma pousada, ganha adesões o argumento de que o lucro com o turismo de observação de onças pode ser maior que a perda de um ou outro boi.
Há relatos de êxito de transferência de felinos nos Estados Unidos e na Espanha, mas no Brasil as poucas tentativas feitas até agora, em florestas a serem cobertas por reservatórios de hidrelétricas, não deram certo. Os animais transferidos não se adaptaram, começaram a comer bois e foram mortos por caçadores ou voltaram a seus locais de origem, a dezenas de quilômetros de distância. Em um dos debates no encontro de setembro em Campinas, os pesquisadores observaram que, nos próximos cinco anos, talvez a criação de conexões – ou corredores – entre os fragmentos de floresta seja uma alternativa mais viável que a inseminação artificial ou a transferência de animais para ampliar as populações de onças-pintadas na mata atlântica. Todos concordaram que se trata de um problema urgente. “Não podemos esperar muito”, disse Valéria Conforti. A onça-pintada já é considerada extinta no Uruguai e nos pampas do Sul do Brasil.
© ALEXANDRE ANÉZIO
Manuel Silva, morador da região de Boqueirão da Onça (acima), Alessandra e a filha Sara, Cailane Ferreira (ao fundo) e Claudia Campos: diálogo constante
Manuel Silva, morador da região de Boqueirão da Onça, Alessandra e a filha Sara, Cailane Ferreira e Claudia Campos: diálogo constante
Um poço para salvar as onças
Mais apreensiva do que quando olhou para os examinadores 
de sua banca de doutorado, 
a bióloga Claudia Campos observou os 50 sertanejos à sua frente na igreja do povoado de Queixo Dantas, norte da Bahia, na tarde de um domingo de julho de 2012. Nervosa, mas com 
voz firme, ao lado dos amigos Claudia Martins, Carolina Esteves e Alexandre Anézio, 
ela sugeriu aos homens que fizessem cercados para manter suas cabras e ovelhas, em vez 
de deixar os animais soltos na caatinga na época de seca, sob 
o risco de serem atacados por onças. Os criadores reagiram: como poderiam deixar os animais presos sem água nem comida, se não chovia há três anos? Se eles aceitassem, ela disse, poderiam construir um poço para tirar água e cultivar plantas para alimentar os animais. Oito deles aderiram ao plano.
A perfuração do poço artesiano estava prevista para o final do mês passado, as plantas que serviriam de alimento para os caprinos seriam semeadas logo depois e os novos cercados, construídos a partir de fevereiro. Se tudo der certo, os animais terão alimento ao longo de todo o ano, como
já se faz em outras partes do sertão do nordeste, e não precisarão mais pastar nas áreas de mata nativa durante 
a seca, reduzindo as chances 
de encontro com as onças; 
os moradores as matam para evitar que ataquem seus animais de criação.
Claudia chegou a Petrolina, Pernambuco, em outubro de 2006, como pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisas 
e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, um dos braços antigos do Ibama, 
para detalhar a distribuição geográfica e os hábitos da 
onça-pintada em uma região
 de 900 mil hectares conhecida como Boqueirão da Onça. 
Ao verem a forasteira chegando em um carro com o logotipo 
do Ibama, os moradores logo diziam que não caçavam bicho nenhum. Conversando muito, ela venceu a desconfiança. “Todos estão cansados de ouvir do governo coisas que poderiam ajudar a vida deles e nunca aconteceram”, ela observou. 
“Já visitei 140 dos quase 
150 povoados da região.”
Aos poucos ela concluiu 
que teria de cuidar dos conflitos entre os moradores e os 
animais silvestres. Em 2009, aos 76 anos, o zoólogo George Schaller, pioneiro mundial na conservação de grandes carnívoros e vice-presidente 
da Panthera, organização que apoia o trabalho na Bahia, percorreu a região e reforçou sua hipótese ao dizer que seria impossível preservar animais silvestres sem a participação dos moradores locais. Claudia estima que por ali vivam 
50 onças-pintadas – ainda não 
viu nenhuma, apenas vê as pegadas durante o dia e 
sente que os animais passam 
por perto quando ela tem 
de dormir no meio da caatinga.
Projetos
1. Uso e ocupação do espaço, movimentação e seleção de hábitat por onça-pintada (Panthera onca) na mata atlântica e caatinga: uma análise comparativa (2013/10029-6); Modalidade Auxílio Regular a Projeto de Pesquisa; Coord. Ronaldo Gonçalves Morato – Cenap; Investimento R$ 110.627,80 (FAPESP). 2. O uso de método não invasivo para monitoramento da função ovariana em onças-pintadas (Panthera onca) via ensaio imunoenzimático e caracterização dos metabólitos de esteroides fecais por meio de cromatografia líquida de alta eficiência (13/12757-9); Modalidade Auxílio Regular a Projeto de Pesquisa; Coord. Valeria Amorim Conforti – Unifran; Investimento R$ 35.780,00 (FAPESP).

Artigos científicos
CARVALHO Jr., E.A.R. de e MORATO, R.G. Factors affecting big cat hunting in Brazilian protected areasTropical Conservation Science. v. 6, n. 2, p. 303-10. 2013.

Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/01/13/de-olho-gato/

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Onça-pintada (Panthera onca) pode desaparecer da Mata Atlântica




Onça-pintada (Panthera onca)
De acordo com alerta feito por pesquisadores brasileiros na revista Science, restam no bioma 250 animais adultos distribuídos em oito populações isoladas e apenas 50 estão de fato se reproduzindo (foto: Sandra Cavalcanti/Instituto Pró-Carnívoros)

A Mata Atlântica está na iminência de perder um de seus mais ilustres habitantes: a onça-pintada (Panthera onca). O alerta foi feito na revista Science, em carta publicada por um grupo de pesquisadores brasileiros membros do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (Sisbiota).
“Uma recente reunião de especialistas em vida selvagem concluiu que a Mata Atlântica, que no passado se estendia por toda a costa brasileira e também por parte da Argentina e do Paraguai, pode em breve ser o primeiro bioma tropical a perder seu principal predador, a onça-pintada”, relataram os cientistas na carta.
“Pesquisadores estimaram menos de 250 animais adultos vivos em todo o território, distribuídos em oito populações isoladas. Ainda pior, análises moleculares demonstraram que o tamanho da população efetiva local (número de animais que estão de fato se reproduzindo e deixando descendente, um parâmetro crítico para a manutenção da diversidade genética) está abaixo de 50 animais”, destacaram.
De acordo com Ronaldo Gonçalves Morato, coautor do texto e chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entre as causas do declínio estão a perda de habitat resultante do desmatamento e da fragmentação da mata e também a caça. Estima-se que, atualmente, reste apenas entre 7% e 12% da cobertura original da Mata Atlântica.
O impacto do desaparecimento da onça-pintada para o ecossistema local é difícil de prever, mas certamente o saldo será negativo. “Quando um grande predador desaparece, pode haver explosão nas populações de herbívoros, como veados, catetos e queixadas. Em excesso, esses animais acabam consumindo todo o sub-bosque da floresta e isso implica em perda da capacidade de recomposição e perda de estoque de carbono. Em longo prazo, pode levar à quebra da dinâmica da floresta”, avaliou Morato.
Pedro Manoel Galetti Junior, professor do Departamento de Genética e Evolução (DGE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coautor do texto, lembrou que o desaparecimento da onça-pintada pode ainda causar aumento desmedido nas populações de predadores intermediários, como jaguatiricas e outros carnívoros.
Por sua vez, isso poderá levar a um aumento na predação de ninhos e, potencialmente, à extinção local de muitas aves, importantes dispersoras de sementes, e alterar a estrutura da vegetação. “O predador de topo de cadeia tem um papel de regulação do ecossistema e, quando ele desaparece, um distúrbio é criado. Isso pode causar a extinção de algumas espécies, até que o ecossistema encontre um novo equilíbrio”, disse Galetti, que coordenapesquisa apoiada pela FAPESP e realizada no âmbito do Sisbiota – programa lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2010 que reúne pesquisadores de diversos Estados e, em São Paulo, conta com financiamento da FAPESP.
Plano estratégico para conservação
A iniciativa de enviar o alerta para a revista Science, contaram os cientistas, surgiu após uma reunião promovida em setembro de 2013 pelo Cenap com o objetivo de elaborar um plano estratégico para a conservação da onça-pintada na Mata Atlântica.
“Na semana anterior ao evento, havia sido publicado também na Science um artigo sobre a recuperação da população de carnívoros no Hemisfério Norte graças a medidas adotadas há mais de 20 anos, como reflorestamento, reintrodução e translocação de indivíduos. Alguns fatores de manejo utilizados por lá permitiram que algumas espécies praticamente extintas voltassem a ocupar certos espaços. Nossa carta tinha o intuito de fazer um contraponto a esse artigo”, contou Morato.
O evento promovido pelo Cenap reuniu diversos membros da rede Sisbiota. O objetivo do grupo é fomentar e ampliar o conhecimento não apenas sobre predadores, mas sobre toda a biodiversidade brasileira, bem como melhorar a capacidade preditiva de respostas às mudanças de uso e cobertura da terra e às mudanças climáticas.
De acordo com os especialistas, a medida mais urgente a ser tomada para salvar a onça-pintada seria o aumento da fiscalização para evitar a perda de indivíduos tanto pela caça quanto pela redução do ambiente causada pelo desmatamento ilegal.
“Primeiro precisamos estancar a perda para então pensar em trabalhar para recuperar as populações. Estamos discutindo a possibilidade de fazer a translocação de indivíduos (colocar novos animais em uma população existente para trazer informação genética nova para o grupo), pois as análises têm mostrados que geneticamente muitas dessas populações remanescentes estão comprometidas. Mesmo se a perda de animais cessar, será necessário recompor essas populações”, afirmou Morato.
Outra possibilidade, contou o pesquisador do Cenap, é recorrer a ferramentas de reprodução assistida. “Podemos coletar sêmen de um indivíduo de uma região e inseminar uma fêmea de outra população, por exemplo. Esse mecanismo pode ser mais prático do que fazer a translocação”, contou Morato.
De acordo com o plano em elaboração pelo Sisbiota, nenhum animal seria solto sem um sistema de monitoramento 24 horas e sem um programa prévio de educação e conscientização com as comunidades do entorno. “É necessário um trabalho forte para que essas comunidades aceitem o retorno do animal. É preciso orientação para que não haja risco no contato com a população humana e para que haja um manejo de rebanhos de modo a evitar a caça por perda econômica”, afirmou Morato.
Para Galetti, antes que qualquer medida seja tomada, é preciso ampliar o conhecimento científico sobre a onça-pintada – o que inclui informações sobre a biologia, a ecologia, a genética e os sistemas em que ela está incluída, ou seja, os demais organismos que interagem com ela. “Não se pode pensar em translocar animais enquanto não se tem segurança e controle sobre os impactos da medida”, ponderou.
Muitos dos estudos que embasam a discussão do plano de recuperação da onça-pintada foram conduzidos no âmbito do Sisbiota, que completa três anos. Parte dos dados foi apresentada nos dias 9 e 10 de dezembro, em São Carlos, durante o 1º Simpósio Brasileiro sobre o Papel Funcional de Predadores de Topo de Cadeia.
O artigo Atlantic Rainforest’s Jaguars in Decline (DOI: 10.1126/science.342.6161.930-a), de Ronaldo Morato, Pedro Galetti e outros, pode ser lido por assinantes da Science emwww.sciencemag.org/content/342/6161/930.1.full?sid=b8928fb9-3760-4f2e-9188-23bc28d2dc2f
Matéria de Karina Toledo, da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 10/01/2014

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014


QUE TAL COMEÇARMOS 2014 TRATANDO BEM NOSSA ÁGUA?


Guia do consumo consciente da água

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Foto: fusky
A água é um recurso natural fundamental na sobrevivência do ser humano e indispensável também como recurso para produção, desenvolvimento econômico e qualidade de vida. Embora 70% da superfície terrestre seja coberta pela água, somente 1% de toda o recurso natural existente está disponível para o consumo humano. E, mesmo assim, esse percentual ínfimo está sujeito a desigualdade na distribuição e seriamente ameaçado de escassez. 
A  estimativa das Nações Unidas é que até 2015, pelo menos 11% da população mundial, o equivalente a 783 milhões de pessoas, continuarão carentes de água potável. De acordo com os dados, 1,1 bilhão de pessoas continuam sem redes de esgoto, e cerca de 4 mil crianças morrem diariamente por doenças diarréicas associadas à falta de qualidade da água.
Diante disso, é mais do que fundamental reduzir o consumo de água. A ideia não é deixar de usar a água, mas sim ter consciência de que é importante poupá-la. Para tanto, é preciso adotar soluções para um consumo consciente, como o reuso de água, fundamental para minimizar a utilização deste recurso e ainda economizar na conta de água. A captação de água das chuvas, por exemplo, pode também trazer forte impacto positivo, econômico, ambiental e até auxiliar na prevenção de enchentes.
Várias soluções podem ser feitas em sua própria casa, de forma bem simples. Confira:

O que você pode fazer para contribuir com a preservação:

No banheiro
  • Prefira torneiras únicas - Quem utiliza torneiras com medição individual para água quente e fria sabe quanta água é gasta até se chegar à temperatura ideal. Por isso, prefira as torneiras com saída única de água. Dessa forma, seja no chuveiro ou na pia, a água já cairá misturada e você poderá acertar a temperatura mais facilmente, contribuindo com a economia de água.
  • Faça xixi no banho – Isso pode soar bastante estranho, mas ao fazer xixi durante o banho é possível economizar uma descarga, o que representa 12 litros de água potável que deixam de ser usados. Os dados são de uma campanha da fundação SOS Mata Atlântica. Eles defendem o hábito como uma forma de contribuir com a conscientização popular sobre o desperdício da água e com isso degradar menos a natureza, preservar os recursos naturais e as nascentes dos rios. Portanto se você estiver tomando banho e bater aquela vontade, pode fazer seu xixi tranquilamente. O meio ambiente agradece.
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Foto: teresia
  • Coloque uma garrafa PET cheia dentro do vaso da descarga - Para reduzir o consumo de água no banheiro, encha uma garrafa PET, tampe-a e coloque dentro do vaso da descarga. Assim, ela ocupará um espaço que seria da água e fará com que o equipamento encha mais rápido. Dessa forma, você evita o gasto desnecessário de água sem impactar a eficiência da descarga. Você irá economizar a quantidade de água relativa ao tamanho da garrafa. Ou seja, uma garrafa de um litro representa um litro a menos de água a cada descarga.
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Foto: laerte
  • Evite as duchas de alta potência - Além de mais caras, essas duchas consomem mais água e, consequentemente, mais energia. Em apenas um minuto, esses chuveiros podem consumir 15 litros de água aquecida. Com cinco minutos de banho, o consumo das duchas pode ser equivalente ao de um banho de banheira. Por isso, opte por chuveiros mais econômicos.
  • Instale um arejador nos seus chuveiros e pias - Esse pequeno instrumento introduz bolhas de ar no jato d’água, reduzindo a tensão superficial da água durante a vazão da torneira e diminuindo os respingos e o desperdício de água. A economia de água pode chegar a 50% e a eficiência do chuveiro e pia continua a mesma. Os arejadores podem ser facilmente encontrados em casa de construção e custam cerca de R$5.
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Foto: brunobucci
 
  • Evite banhos de banheira - Se você puder optar entre chuveiro e banheira, escolha o primeiro. Um banho de banheira gasta, em média, 80 litros de água enquanto que o chuveiro (aberto durante cinco minutos) gasta 45 litros. Por isso, tente evitar ao máximo o banho de banheira e deixe-o apenas para ocasiões especiais. Além de economizar um bem precioso, que é a água, você reduzirá a conta no final do mês.
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Foto:Mylla
 
  • Instale torneiras automáticas - Se você puder, instale torneiras automáticas em sua casa, condomínio ou escritório. Esses modelos de torneira possuem um tempo de abertura automático e fecham depois disso, impedindo que a água corra sem necessidade. Se possível, opte por modelos com sensores automáticos. Apesar de mais caros, esses aparelhos podem proporcionar uma economia de até 70% no consumo de água.
  • Aproveite a água do chuveiro enquanto espera ela esquentar - Na hora do banho, enquanto você espera a água esquentar, deixe um balde debaixo do chuveiro para captar a água fria. Você poderá usar essa água limpa depois no jardim, na horta, para lavar as roupas, o carro ou o que precisar. Se você fizer isso a cada banho poderá poupar uma boa quantidade de água limpa ao final do dia e que seria desperdiçada inutilmente.
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Foto: Tahiana Máximo
 
  • Passe menos tempo no banho - Se você é daqueles que adora relaxar debaixo do chuveiro e leva horas tomando banho, saiba que você pode estar contribuindo para o consumo exacerbado de água e para o aumento da conta no final do mês. Cinco minutos é o tempo indicado para um banho completo e sustentável. Segundo dados da campanha De Olho nos Mananciais, um banho de ducha de 15 minutos, com o registro meio aberto, consome 243 litros de água. Fechando o registro enquanto nos ensaboamos e reduzindo o tempo do banho para cinco minutos é possível reduzir o consumo de água total para 45 litros. Também é importante ficar atento ao tipo de chuveiro. Os movidos a aquecedor solar, apesar de consumir menos energia, gastam até duas vezes mais água que os chuveiros elétricos.
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Foto: emanuele spies
 
  • Economize quando escovar os dentes - Feche a torneira enquanto escova os dentes. Se enxaguar a boca com um copo d’água, conseguirá economizar mais de 11,5 litros de água (casa) e 79 litros (apartamento).
Na cozinha
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Foto: Fernando Meyer
 
  • Feche a torneira para lavar a louça - Quando estiver lavando a louça, não se esqueça de fechar a torneira. Abra-a apenas na hora de molhar e de enxaguar. Lavar a louça com a torneira meio aberta durante 15 minutos representa um consumo de cerca de 100 litros de água. Por isso, nada de desperdício.
  • Lave a louça em uma bacia de água - Use uma bacia com água para ensaboar a louça sem precisar deixar a torneira aberta. O resultado é o mesmo e você poderá poupar até 160 litros a cada lavagem. Você ainda pode fazer isso na própria pia, tapando a passagem da água. Uma conta do Instituto Akatu mostra que com essa atitude, uma família que lava louça três vezes ao dia pode economizar até 480 litros de água, e se cinco famílias adotarem essa medida, em vinte anos terão salvo 17,5 milhões de litros – o suficiente para abastecer quase 9 milhões de pessoas em um dia. Para tornar essa economia ainda maior, experimente usar duas bacias – uma para ensaboar e outra para enxaguar as louças. Você irá utilizar apenas 20 litros e economizar 660 litros de água em um único dia.
  • Só use água corrente na hora de enxaguar a louça - Abra torneira apenas na hora de enxaguar a louça. Antes de ensaboar, encha a pia e deixe os pratos, talheres e copos sujos lá dentro. Isso amolece a sujeira, facilita a limpeza e reduz o consumo de água. Com essa ação simples você diminui o trabalho na hora de lavar a louça e ainda economiza água e detergente.
  • Enxágue a louça de uma só vez - Na hora de lavar os pratos, ensaboe e lave tudo de uma só vez. Assim você evita abrir e fechar a torneira diversas vezes, o que acaba desperdiçando água. Para evitar o gasto desnecessário, acumule todos os pratos, panelas e talheres e coloque aqueles mais sujos de molho, para “soltar” a sujeira. Depois ensaboe tudo com a torneira fechada e só ligue-a na hora de enxaguar.
  • Na higienização de frutas e legumes – Para higienizar frutas e legumes utilize cloro ou água sanitária, de uso geral (uma colher para um litro de água, por 15 minutos). Depois coloque duas colheres de sopa de vinagre em um litro de água e deixe por mais 10 minutos, economizando o máximo de água possível.
Na Lavanderia
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Foto: Gov/BA
 
  • Use a roupa mais de uma vez antes de lavar – Algumas roupas como casacos e calças jeans, podem ser utilizadas mais de uma vez antes de irem para a máquina de lavar. Ao fazer isso você poupa água, energia, produtos de limpeza e, claro, dinheiro. Por isso, avalie as condições das peças antes de jogá-las no cesto de roupa suja e veja se não dá para usá-las mais uma vez.
  • Junte bastante roupa suja antes de ligar a máquina ou usar o tanque - Não lave uma peça por vez. Procure usar a máquina no máximo três vezes por semana. Se as roupas são lavadas no tanque, deixe-as de molho e use a mesma água para esfregar e ensaboar. Use água nova apenas no enxágue. Aproveite esta última água para lavar o quintal ou a área de serviço.
No jardim
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Foto: txato
 
  • Regue suas plantas com moderação - Se está ameaçando chover, não faz sentido você molhar suas plantas. Use a água da chuva. Caso seja necessário regar, prefira fazer isso à noite ou no início da manhã: nessas horas mais frias, as plantas usam menos água para sobreviver. Fazendo isso elas permanecerão molhadas por mais tempo e você não terá que repetir o ato tão cedo, economizando água. Lembre-se que a água é um recurso não-renovável e que todos nós devemos ser responsáveis pelo seu manejo sustentável.
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Foto: Hipopótominha
 
  • Deixe a grama crescer - A grama alta retém mais umidade. Por isso, durante o verão, deixe o gramado crescer pelo menos quatro centímetros. Essa providência evitará a aparição de trechos ressecados e diminuirá a necessidade de regar, economizando água.
  • Irrigue suas plantas com um sistema de gotejamento - Esse sistema irriga as plantas de forma lenta, contínua e controlada e garante uma boa economia de água. Você pode montar um desses em seu jardim fazendo pequenos furos em uma mangueira e colocando-a próxima ao caule das plantas, de modo a umedecer continuamente as raízes. Esse método de irrigação é preciso e econômico. Um aspersor de grama comum, por exemplo, pode medir a vazão de água em litros por minuto, enquanto que um gotejador é classificado em litros por hora. A vazão de água é tão vagarosa que é facilmente absorvida pelo solo. Em um sistema bem ajustado, há pouca probabilidade de excesso de escoamento de água e desperdício.
  • Troque a mangueira por vassoura e balde - Quando for lavar a calçada ou o quintal, evite usar a mangueira. Uma forma muito mais sustentável de limpar a porta de casa é utilizando à boa e velha dupla vassoura e balde. Primeiro varra o local para tirar a sujeira mais grossa e depois jogue a água do balde para finalizar a limpeza. Se um balde de água não for suficiente, encha outro, mas evite usar a mangueira. Fazendo isso você poderá economizar até 250 litros de água.
piscina.jpg
Foto: Roberto Berlim
 
  • Cubra sua piscina - Se você tem piscina em casa, procure mantê-la sempre coberta. Dessa forma, você evita que litros de água evaporem todos os meses. Uma piscina média exposta ao sol e ao vento tem uma taxa de evaporação de até 3.800 litros mensalmente. Com uma cobertura (encerado, material plástico), a perda é reduzida em 90%.