REFLEXÕES SOBRE O FIM DA GREVE... E AGORA?
Por:Patrícia Dias/ analista ambiental/CPRH/UIGA/PETR
Nossa greve findou. Em dias corridos podemos dizer que durou entre 08/08 a 19/08, exatamente doze dias. Não acredito que em pleitos como esses, não se ganhe nada, apesar de muitas vezes a sensação ser esta. Acredito também, sendo bastante clara que é apenas a opinião de mais uma a somar-se aos colegas de categoria, que em assembleia resolveram deflagrar o movimento paredista, que ganhamos sim, não o que realmente desejávamos, mas ganhamos. Alguns colegas comemoraram. Acho que com festa. E tem que se comemorar sim, pois aí é que encontramos forças, ânimo para os próximos enfrentamentos. Vitórias:ínfimas, silenciosas jamais.
É minha opinião que os ganhos, tem muito mais a ver com pactos não dignificados pelo nosso governo em pleito anterior (greve 2011), do que pleitos novos. Não entrarei em detalhes sobre o acordo grevista em relação ao fim da mesma, basta dizer que aceitamos o aumento de 6,5% oferecido para este ano, 5,5% para 2014, e um boa mexida no Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos - PCCV que, ao meu ver estava esquecido numa velha gaveta de algum gestor qualquer, desses que se valem apenas da palavra PODER, e assim, sonha estar acima do bem e do mal.
Mas a agora? O que temos de fazer para passar a ter maior qualidade nas nossas funções? Como adquirir a estrutura mínima para funcionar a contento para que os empresários, empreendedores não sejam prejudicados? E a própria sociedade?
Sim, porque a mídia e boa parte da sociedade, ao enxergar um movimento paradista se configurando no horizonte, arregaça as mangas e joga pedra, afinal, o que esses "caras" querem mesmo? "Funcionários públicos, vivem na mamata, querem ganhar mais? E eu, como fico?"
É possível que tenhamos melhorado a partir desta greve nossos rendimentos e reconhecimento por anos de estudo e dedicação para oferecer o melhor para esses empresários, empreendedores e sociedade (vide a esperada qualificação a ser colocada em prática no PCCV).
Mas não se enganem todos por favor: nada vai mudar muito apenas com isso. Não temos estrutura. Não temos como oferecer ainda o melhor de nós. Não temos como defender o meio ambiente, nosso papel antes de tudo, e não agradar empreendedor. Não temos como mostrar para a sociedade como está sendo utilizado todo o investimento revertido em nossa educação e qualificação.
Ainda estamos mergulhados numa cultura onde fiscalização, seja ela em que área for, só atrapalha. Apenas lembrando que em comício propagandista do projeto de transposição do rio São Francisco em Cabrobó - PE, na época o então presidente do Brasil, Sr° José Inácio Lula da Silva proferiu palavras bem desabonadoras aos fiscais ambientais: "só nos atrapalham. Só nos perseguem. Não querem o desenvolvimento".
E assim pensam os nossos empresários, empreendedores quando batem no peito e dizem que são os únicos prejudicados. E assim pensam nossos governos representantes de dois papeis: enquanto empreendedores também, ao exigir as licenças ambientais de qualquer jeito, como meros documentos barganhadores de esmolas, ou sejam como gestores de estado, responsáveis diretos pela proteção e conservação de toda nossa biodiversidade, onde o lucro só respeito o bolso de quem irá recebê-lo.
Independente se melhores salários, os senhores utilizadores de recursos naturais serão sim, prejudicados de alguma forma enquanto não tivermos estrutura para funcionar. Enquanto um órgão público perder a cada dia seus melhores profissionais para outras esferas ou setores, por pura falta de incentivo. Enquanto não pudermos atender de forma digna aos senhores do dinheiro por conta do excesso de trabalho. Enquanto não tivermos equipes de fiscalização suficientes para um serviço de qualidade inestimável. Enquanto esses profissionais correm perigo de vida todo dia e não tem nenhuma guarida nos braços de quem deveria protegê-los. Enquanto não pudermos acelerar os processos (de forma responsável e não por pressão) por pura falta de tudo que acredita-se ser o mínimo decente. Enquanto houver uma política interna tão absurda que joga colega contra colega, equiparando-os em termos de funções, mais não em termos salariais. Enquanto continuar uma política onde os escritórios do interior são delegados à segunda divisão de campeonato, como meros figurantes no estado, tendo que dar conta de demandas humanamente impossíveis dentro da atual conjuntura.
Então senhores empreendedores, empresários, donos do dinheiro e poder, ao invés de pedras, por que não lutar conosco essa luta? Por que não, com poderio de vocês, senhores amigos do rei, enfrentar o governos ao exigir aparelhamento adequado para melhor servi-los ? E quando digo melhore servi-los, não digo subserviência, mas sim atendê-los dentro da ética, da lei e do correto.
Mas há realmente interesse em se fortalecer os órgãos ambientais? Ainda somos os paralisantes do desenvolvimento do nosso país, estado? Como realmente somos vistos?
Por enquanto mais fácil manter o atual status quo, deixar as coisas como estão. Servimos quando o vizinho, por motivos muito obscuros resolve denunciar o outro. Fazer a coisa certa nem pelos motivos errados. Clamar por nossa presença quando nossa atuação não mexe com certos interesses.
Mas as coisas hão de mudar. Acredito termos uma nova geração dentro do nosso órgão. Levantes discretos e criativos ocuparão as mentes mais reacionárias. Faremos greve novamente. Inventaremos formas de não nos abatermos. Temos que acreditar. temos que acontecer.
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