PAPEL, SIM!
Por: Dráuzio Correia Gama*
Após eu ver em algumas redes sociais na internet a propaganda que dizia “MAIS COMPUTADORES EM SALAS DE AULAS, SIGNIFICA MENOS PAPEL E, PORTANTO MAIS ÁRVORES”, confesso que fiquei pasmo e me vi obrigado e escrever esse manifesto.
Talvez seja uma mensagem um tanto quanto desesperadora, sem tempo de pensar. Ideia daqueles que são levados pelo calor da situação, pela verve ecológica de querer defender as árvores e aí se precipitam. É compreensível até, por esse ponto de vista, mas ainda não é justificável. Não tem fundamento. Por outro lado, a colocação pode até soar como um daqueles discursos estimulados pelo agronegócio dando uma de “bom moço” em favor da natureza, tentando engabelar quem quer que seja na tentativa fracassada de convencer de que a culpa do desmatamento não é dele, e sim do pobre papel! Ou ainda pode ser simplesmente uma propaganda evasiva e torpe do setor de informática a galgar mais mercados!
Pois bem, não sei de quem foi a autoria ou a intenção. Porém, fiquei sentido pela desinformação dessa propaganda, e me senti forçado a advogar em defesa das árvores e claro do papel, por inúmeras razões, contrariando a ideia de substituir o papel pelo computador em salas de aula.
A começar, eu acho que em favor das árvores a propaganda deveria ser: “MAIS PAPEL EM SALA DE AULA, SIGNIFICA PORTANTO MAIS ÁRVORES E, PORTANTO MAIS SEQUESTRO DE GÁS CARBÔNICO, MAIS BIOCOMBUSTÍVEL (METANOL, POR EXEMPLO), MAIS AR LIMPO, MAIS UMIDADE NO AR, MAIS ÁREAS SOMBREADAS, MAIS PARQUES NATURAIS, MAIS REGULARIZAÇÃO DE MICROCLIMAS LOCAIS...“
Quero dizer com isso que se enganam quem pensa que a produção, o consumo e, portanto o uso do computador em salas de aula, substituindo o papel, estará contribuindo com essa ideia de proteger as árvores. Não mesmo! A depender do ponto de vista o computador pode ser até um vilão e não um mocinho como pensam! Pois o computador mesmo sendo um instrumento de grande serventia aos dias atuais, jamais assumirá a posição de destaque no quesito de contribuidor por um meio ambiente limpo e protegido. Pois produzir computadores e afins, significa nada mais, nada menos do que consumir mais petróleo, queima de combustível fóssil, emissão de dióxido de enxofre, dióxido de carbono, mais exploração de silício, prata, ferro, ouro, cobre, tungstênio (e mais umas dezenas de outros minerais). Além do consumo de energia e de água, por exemplo. É simplesmente um consumo fulminante de muitos recursos naturais não-renováveis! E não pára por aí. Hoje é um grande problema encontrar meios seguros para o rejeite dos ditos lixos eletrônicos que são esses computadores e similares descartados, resultando-se em volumes assustadores desse lixo por todos os anos, pois a cada ano surge novos modelo, e os “antigos”, assim sendo, vão para o lixo! E, diga-se de passagem, é um lixo altamente tóxico por possuírem metais pesados em alguma de suas peças, poluindo o solo e a água, quando não são descartados de forma segura.
Não quero aqui tirar o mérito e a importância do computador. E é inadmissível imaginar um mundo sem ele! E claro, deve auxiliar a educação das crianças. Mas falar que ele deve substituir o papel em salas de aula com um argumento pífio de que é em favor de proteger as árvores, é de uma total ignorância sem nome. É desconhecer muita coisa. E é até uma falta de bom senso.
Logicamente que consumir papel não quer dizer acabar com as árvores, ao contrário, requer mais plantio de árvores. E é preciso sim explorar as árvores, pois estamos falando de matéria prima renovável. Só pra se ter uma ideia, das árvores se pode explorar matéria prima para mais de 5.000 utilidades! Dentre elas o papel, advinda do processamento da pasta de celulose. Coisa que as indústrias e empresas que exploram a silvicultura de pinus e eucalipto faz muito bem, obrigado! Sem contar com a responsabilidade dessas com o meio ambiente, onde para entrar no mercado, o papel precisa ter certificação como originadas de árvores de reflorestamentos, onde isso engloba uma série de critérios ecológicos.
Talvez a distorção seja associar papel com madeira nativa. Ou seja, não se deve confundir produção de papel com esses atos criminosos do desmatamento indiscriminados de florestas naturais, derrubando árvores nativas a todo custo sem manejo florestal sustentável, por exemplo. O desmatamento ilegal é uma outra estória. E por si só já se configura um crime e, deste modo, deve ser punido na forma da Lei quem assim se comporta! Mas confundir isso com produção de papel é absurdo! Até porque não são todas as árvores nativas que se poderiam produzir papel. E desconheço empresas que utilizem espécies nativas para esse fim. E mesmo que fossem utilizadas, seriam com base em planos de manejo florestal de rendimento sustentado.
Enfim, produzir papel não ameaça a sustentabilidade do planeta, nem as árvores! E uma propaganda como essa, vale salientar, também estimula ao comodismo frente às questões ambientais, ao desestímulo a prática silvicultural e a uma deseducação a respeito da importância das árvores. Portanto, reafirmo, é uma propaganda irresponsável! Pois é mais do que justificável de que árvores devam ser plantadas, independentemente se é para produzir papel ou não. Somem os inúmeros serviços ambientais que elas executam em favor da manutenção da vida na Terra e verá sua importância, inclusive!
E papel deve ser utilizado nas escolas sim e sempre! Pois quem não defende a ideia de produzir e utilizar papel nas escolas é dotado de ignorância crônica, tem outros interesses ou, infelizmente, é alguém que não teve infância! Pois papel pode ser produzido infinitivamente, não polui o ambiente, é biodegradável e pode ser reutilizado/reciclado. E retirar papel das escolas e trocar por computador é querer impedir o exercício da liberdade criativa da criança! É querer afastar a criança do estado natural das coisas. É ceifar das crianças a oportunidade de usufruir da felicidade de rabiscar papel, de pintar, de imaginar, de escrever, de desenhar... Onde sem dúvida é o momento mais desejado de qualquer criança, de estar ali diante de lápis e papel! Pois a criança estar diante de um papel, é ter a oportunidade da imaginação, a prática do raciocínio e claro, de um entretenimento saudável, de forma sustentavelmente ecológica!
Dráuzio Correia Gama*
Estudante de Eng. Florestal
Universidade Federal de Sergipe/UFS
drauziogama@hotmail.com
Caro Dráuzio,
ResponderExcluirAproveito aqui para fazer pequenos comentários sobre sua postagem. Concordo quase em número e grau com vc. O blá blá blá que diz que papel reciclado significa menos desmatamento realmente é falacioso.Não se desmata nativas para produzir papel, não pelo fato da preservação/conservação, mas porque papel de eucalipto é o mais indicado tecnicamente e "lucralmente" (desculpe pela liberdade da construção gramatical... kkkk). Em todo caso monocultura é sempre monocultura, mesmo com espécies que só serão retiradas a cada sete anos, causando menos impacto que as monoculturas agrícolas, em especial as anuais. Também creio que as empresas florestais respeitem mais as áreas de preservação na propriedade do que as empresas agrícolas, que têm sempre na ponta da língua o argumento que afinal, todos precisam de comida! Mas também ao que já se sabe, há muito tempo (década de 70?), as empresas florestais aproveitavam áreas degradadas devido à agricultura para fazer seus extensos plantios. Agora não é mais assim, sendo que elas desmatam muitas vezes sem autorização, grilando terras de pequenos, ou seja, seguindo os mesmos "princípios" do agronegócio. A monocultura, seja ela qual for, transcende a pauta ambiental, sendo enraizada mesmo na cultura da desigualdade e obtenção de lucro a qualquer custo. Seu artigo é muito interessante como um ponta pé inicial de uma discussão muito mais profunda.
abraço