Com a vela e o pinico nas mãos, artigo de João Suassuna
Publicado em fevereiro 22, 2013 por HC
Ao entrar de férias, em dezembro do ano passado, havia deixado pendentes três questões importantes, que estavam sendo evidenciadas na mídia, e que, segundo meu juízo, mereciam voltar à nossa atenção no início de 2013. Refiro-me ao projeto de Transposição do rio São Francisco, a Geração de Energia, com os reservatórios das hidrelétricas apresentando níveis baixos de acumulação, e a Seca de 2012, considerada pelos especialistas, como uma das maiores dos últimos 40 anos.
No meu retorno ao trabalho, em fevereiro de 2013, observei que a situação dessas questões não havia mudado muito, conforme os breves comentários que passo a fazer abaixo:
Em relação à Transposição do rio São Francisco, esta, infelizmente não saiu do lugar. Gastou-se, até o momento, uma fábula de recursos financeiros para a construção dos canais, e da água salvadora do povo, extremamente necessária na atualidade, não chegou uma gotasequer ao seu destino. Na minha avaliação, com a morosidade com que está sendo conduzida a obra, o prazo estipulado pelo governo (2015), para sua conclusão, tem que ser redimensionado. A clara desaceleração na execução do projeto, salvo melhor juízo, não foi por acaso. É proposital e irá servir de munição para a continuidade do poder, na campanha presidencial de 2018. É viver para crer.
Ainda sobre essa questão sugiro, aos movimentos sociais, que redirecionem seus esforços no sentido de se pôr em prática as alternativas mais baratas de abastecimento das populações do Semiárido, as quais se encontram atualmente em vigor. Refiro-me, principalmente, ao Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano, da Agência Nacional de Águas (ANA). Esse projeto custa a metade do que foi orçado na transposição, e tem um potencial de abastecimento três vezes maior do que aquele projeto.
No tocante à Geração de Energia, com os reservatórios apresentando baixos níveis de acumulação, entendo que houve uma pequena melhoria no quadro que se apresentava em dezembro de 2012, período no qual a represa de Furnas, localizada no Sul de Minas Gerais, se encontrava com cerca de 12% de acumulação, apenas. Com as chuvas caídas no início de janeiro, no triângulo mineiro, houve uma parcial recuperação da referida represa, para alívio do povo da região Sudeste do país. Já para o Nordeste, as chuvas responsáveis pelo enchimento da represa de Sobradinho e, consequentemente, importantes para a geração de energia da região, estão caindo na parte central de Minas Gerais, bem abaixo da média histórica, o que vem trazendo desespero para os nordestinos. Esse regime, que preocupa sobremaneira, tem resultado em uma lenta recuperação daquela represa, fato este que não descarta a possibilidade de novo racionamento energia em 2013, conforme tenho denunciadono portal Rema Atlântico,.
Ainda sobre a questão da energia elétrica, a presidente Dilma Rousseff, no dia 23 de janeiro passado, comunicou à nação, em cadeia televisiva, a redução das tarifas de energia para o consumidor (tanto residencial, como industrial). Teria ficado de bom tamanho, se sua excelência tivesse focado sua informação, única e tão somente, na redução de tais tarifas. Mas, em seu pronunciamento, ela não se limitou somente a isso. Foi mais além: aventurou-se na defesa do sistema de geração elétrica nacional, o qual, segundo minha avaliação encontra-se operando em regime vaga-lume, acendendo e apagando, a exemplo dodesligamento verificado na região Nordeste, no final do ano passado. Além do mais, sua excelência considerou a geração, em termelétricas, como um fato absolutamente normal e vantajoso, não se preocupando com as questões dos custos elevados que envolvem esse tipo de operação e nem com as consequências impostas ao meio ambiente, principalmente com a poluição exacerbada causada pelos óxidos de nitrogênio (NO e NO2), produtos extremamente nocivos à saúde das pessoas. Com esse tipo de postura, sua excelência passou de “pedra” para “vidraça”. Se por ventura ocorrerem novos desligamentos no País, isso dará margem a críticas severas dos opositores de seu governo.
Com referência à Seca de 2012, esta deixou um rastro de destruição sem precedentes. A pecuária nordestina foi reduzida a frangalhos, a economia da região foi atingida em sua essência e, infelizmente, vidas humanas foram ceifadas. Como se isso não bastasse, preocupa a previsão feita por meteorologistas do Instituto de Pesquisas Aeroespaciais(INPE), sobre a possibilidade de o período seco se prolongar no ano de 2013. Segundo eles, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), um cinturão de nuvens carregadas que em março, abril e maio atua sobre a região causando as chuvas providenciais, se formou no Hemisfério Norte, bem distante do litoral nordestino, o que, somado a interferências da temperatura do oceano Atlântico, causará chuvas abaixo da média em todo Setentrional nordestino. No dia 14 de fevereiro, um pequeno “braço” da ZCIT chegou ao litoral da região, causando chuvas esparsas em alguns pontos, a exemplo do Seridó norte-rio-grandense, de Catolé do Rocha, na Paraíba, do sertão dos Inhamuns, no Ceará, e de algumas outras localidades do Cariri paraibano. Mas, essas ocorrências foram de baixa intensidade, insuficientes, inclusive para a melhoria do armazenamento de açudes.
Isto posto, me preocupa enormemente as projeções que estão sendo estabelecidas para a vida no Semiárido em 2013. Quando um indivíduo está em situação calamitosa, que põe em risco sua própria vida, existe um adágio popular no Nordeste que diz que essa pessoa está “com a vela e o pinico nas mãos”. Pois bem, caso as previsões dos meteorologistas se confirmem, haverá uma enorme possibilidade de o ano de 2013 vir a ser igualmente seco, ou seja, de uma período seco “enganchar” no outro. Caso isso venha a ocorrer, ficará fácil deduzir, que todos os que habitam o polígono das secas (sem exceção) ficarão em igual situação de penúria. Sobre essa situação, ficarei na torcida para que as chuvas voltem o mais rápido possível e em volumes suficientes para o restabelecimento da vida em nossa sofrida região.
Revista eletrônica Ecodebate Cidadania & Meio Ambiente
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